sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

As três Marias

 As Três Marias
As mensagens vem sempre em fragmentos, e, não raras vezes, entre um entendimento e outro passam tempos que aos olhos da nossa curta vista se afiguram demasiado longos. Sempre foi assim comigo, talvez para contrariar o meu espírito inquieto e por vezes ansioso… talvez para contrariar esta necessidade constante de procura… talvez para que eu possa na constatação convencer-me que o resultado da procura encontrar-me-á quando tempo disso for e não quando eu quiser. 
            O segredo está na entrega. Sem ela nada se alcança. Para quem sempre lutou, pensando que essa era a única saída, esta foi uma lição dura de aprender. Quando as dúvidas e as interrogações tiverem ocupado todo um tempo, todo um espaço e toda uma mente, acreditares que um dia tudo será diferente, se souberes deixar que a sincronicidade aconteça, se souberes, bem dentro de ti, que basta um instante para que tudo mude. Este é o equilíbrio entre a acção inspirada, intuitiva e o deixar fluir. 
           Há momentos na vida que, embora revestidos de uma aparente trivialidade, marcam a nossa existência, pois revelam pequenas fibras preciosas da malha na complexa urdidura do nosso ser. Este momento, em particular, encontra-se na alvorada deste pequeno pedaço de vida que convosco partilho.    
         A minha alma chorou muito nesta vida, como muitas outras almas deste mundo. As vezes, por razões concretas, outras vezes…          Esta outra dor, essa não encontra causas nos limites desta vida, mas sempre me acompanhou.  Tinha 33 anos. Deixara para trás… enfim tudo, para além do meu ser. Deambulava pela cidade que fora a encruzilhada da minha vida, sufocada por uma dor que já não cabia no meu peito. No limite da minha resistência avistei uma pequena igreja. Entrei e deixei me chorar. Subitamente a minha consciência foi projetada para um outro tempo, um outro espaço. Vi-me e senti-me de joelhos numa terra de chão árido e seco e de um sol quente encoberto por um céu pesado e escuro, sentindo a imensa dor da perda. Perda de alguém que eu amava sem limites. Seguidamente estas palavras ressoaram na minha mente: “O meu nome é Miriam”. Tive assim consciência de mim, como uma mulher numa terra distante de longos cabelos cobertos por um manto empoeirado, derrotada por uma dor maior do que ela.     
 Hoje compreendo bem esta sinergia que subtilmente nos conduz, nos guia e nos revela, quando tempo é chegado, fragmentos das razões da nossa existência. Todos podemos relembrar e reaprender esta forma de comunicar com a nossa essência e maravilharmo-nos com as revelações que a cada sopro de vida podem surgir.     
    Neste momento, em que vos escrevo, constato, num olhar subitamente iluminado, o significado de sucessivos “acasos” na minha vida, num processo com uma duração aproximada de três anos, que encontram agora o seu culminar. Contudo para que tudo começasse a acontecer, para que a engrenagem começasse a funcionar e a sincronicidade acontecesse, foi preciso fechar velhas portas, abrir mão de apegos e dar um salto de fé. Quando assim é, inicia-se um novo caminho, ao longo do qual vão-nos sendo dadas pistas, mais ou menos evidentes das verdadeiras linhas que traçam o nosso propósito nesta vida.    
     Muitas pessoas passam pelas nossas vidas, umas permanecem, vão ficando mais tempo, outras não se demoram mais do que é necessário para cumprir a sua função. Assim, como o carteiro, que fica breves instantes à nossa porta, mas é, por vezes, portador de mensagens que nos marcarão pela vida toda. Assim foi com este homem que veio do outro lado do Atlântico, do Brasil e que um dia cruzou o meu caminho, trazendo consigo mensagens. Uma delas só hoje começo a compreender. Deste breve encontro de percursos ficou um livro. Livro esse que não tive oportunidade de devolver. Portanto quando me foi entregue, foi-me dito que era importante lê-lo, mas que o queria devolvido. Nessa ocasião não lhe dei grande importância, nem consegui ler mais do que duas páginas e o livro acabou por ficar largado numa qualquer prateleira. “Os cátaros e o Catarismo – DO ESPÍRITO À PERSEGUIÇÃO”      
  Vários meses se passaram. Numa viagem nocturna de carro em direcção a Marrocos, os meus olhos fixavam-se no céu, onde as Três Marias brilhavam com uma intensidade invulgar, parecendo querer guiar-me para um destino maior. Chegamos a Algeciras às 11h em ponto, o meu companheiro Alexandre Valente e eu. Mais tarde, quando saímos até à praça central, uma procissão de Nossa Senhora da Assunção começava a sua marcha. Era dia 15 de Agosto de 2008.
 A caminho de Gibraltar, encontrei a meus pés, no chão, uma cruz. Uma cruz peculiar, diferente das mais comuns. Apanhei-a e guardei-a, sem compreender o que ela significava, mas sabendo que era suposto guardá-la. E, na verdade, assim permaneceu guardada, assim como o livro, um pouco ao abandono, até agora, momento em que outras peças do puzzle surgiram e encaixam deixando tudo mais claro.       
   Nos anos que se seguiram até hoje, fui levada a diversos locais da região dos cátaros, em França, em três viagens diferentes, região essa onde nasci. Aparentemente foram sempre acasos ou enganos que nos levavam a estar nos locais certos, no momento certo. 
    A primeira vez, numa volta por vários países da Europa em caravana, uma distração na estrada fez-nos “desviar” do trajecto previsto e colocou-nos na rota de Lourdes, gruta e santuário Mariano, em pleno coração do país dos Cátaros. Chegamos à gruta às 11horas precisas, sem ter feito nada para que assim fosse.        
  Naturalmente, é preciso ver para além desses aparentes “enganos” e “coincidências”, estando sempre vigilante, aceitando-os, não como desvios ou inconvenientes, mas sim como desígnios maiores. Desta feita, fomos para Lourdes e sentimos como uma bênção a energia de Amor e cura daquele local.         
  Um ano depois, tendo intenção de viajar para a ilha de Rhodes, na Grécia, verificamos, depois de ter já comprado os bilhetes de avião, que outro “engano”, desta feita um erro ortográfico,  tinha feito do nosso destino Rodez em França e não Rhodes na Grécia. Novamente nos víamos puxados para o coração da região cátara. Mais uma vez, resolvendo não contrariar este destino que insistia em levar-nos para a minha terra natal, fomos para Rodez. Aí, processos cármicos foram accionados por ressonância com o local. Transmutações e entendimentos feitos, concluímos que as razões destas viagens se esgotariam por aí. Hoje, porém,  entendo que as motivações são mais amplas e ultrapassam o karma pessoal dos envolvidos.    
   Na verdade, apenas nos deixamos levar por esta inteligência que nos guia e nos aponta caminhos. A entrega é isto. Ir, sem mesmo saber porquê, sem mesmo saber para quê, sem mesmo saber o que nos espera para além. Ser como o rio que flui. Confiar, ter paciência e acreditar que um dia, se necessário for, tudo nos será revelado. Mas, a seu tempo, sempre a seu tempo. No tempo certo.           
  A terceira viagem a França aconteceu este ano, em Setembro. Só depois de tudo acontecer nos apercebemos das ditas “coincidências”: saímos dia 1 e voltamos dia 11. 11 dias de viagem. Ficamos no departamento francês número 11, pormenor que só nos saltou à vista dias depois pela observação pelas matrículas dos carros dos residentes. Por ser uma região montanhosa e abundante em grutas, eu sugeri para que fossemos visitar pelo menos uma das muitas existentes. Escolhemos uma, que por ter um rio subterrâneo e cuja visita é feita em pequenos barcos, nos pareceu a mais interessante. No dia seguinte seria a primeira visita do dia. Mas não foi. Choveu tanto nessa noite que a gruta fechou as visitas. Ainda tentamos outra, mas também foi impossível. Resolvemos assim seguir até ao nosso destino final, onde iríamos ficar o resto da semana: o departamento 11 Aude, na região Languedoc. Aí, tudo fluiu. Acabamos por visitar “La grotte des Demoisselles”, de seu nome antigo “Gruta das Fadas” como referiu o guia da visita.     
   À entrada da gruta o meu coração batia mais forte que o normal. Não sabia o que me esperava, mas tinha a certeza que algo me esperava. Nesta ocasião eu já tinha compreendido há muito que a minha ligação com aquela terra ia para além do facto de ter lá nascido nesta encarnação. O guia fez várias referências aos cátaros, às perseguições e às superstições que fizeram com que tanta gente morresse pela lâmina da ignorância. Falou das “fadas”, das mulheres perseguidas e mortas durante séculos e que naquela gruta encontraram o seu último sepulcro.   Existem também teorias que apontam aquela região catára como último destino de Maria Madalena, esposa de Jesus, após ter fugido para Alexandria no Egipto. Mais precisamente Sainte Marie de la mer, no sul de França, muito próximo do local onde nos encontrávamos. Tudo isso, para mim era já sabido, pela procura das razões que fui fazendo para compreender a revolta e rebeldia que toda a minha vida sentira relativamente à uma supremacia masculina que nunca aceitei.   De facto, depois da constatação de um padrão kármico vem a compreensão e finalmente o perdão. Na ocasião desta viagem, eu já tinha conseguido passar por todas essas etapas. O perdão estava já feito. Demorou o seu tempo, é verdade, mas um dia, percebi que já tinha feito as pazes com os homens. Já tinha então feito as pazes com essa parte de mim. E é assim que as coisas se processam. Vão nos sendo feitas revelações à medida em que vamos fazendo o trabalho interior, à medida que vamos tendo merecimento. Após passar vários túneis estreitos e claustrofóbicos, que me permitiram enfrentar um dos meus maiores medos, o espaço abriu-se repentinamente numa câmara gigantesca com 52 metros de profundidade, de onde, bem no centro, irrompe do solo, bem do coração da terra, uma estalagmite que resolveu tomar as formas de uma mulher segurando o seu filho no colo. O guia fez referência à formação como sendo Maria segurando Seu Filho.
Naquele momento percebi e na minha mente ressoou:  EU ESTOU AQUI E EM TODA A PARTE, EU SOU VOSSA MÃE  Ali estavam representadas todas as mulheres perseguidas, subjugadas, remetidas ao silêncio e à escuridão, mas que apesar de tudo, se reerguem do solo, renascem, qual Fénix, pelo milagre da fecundidade.  
EU SOU A MÃE, NO MEU VENTRE TODOS CABEIS, POIS TODOS SOIS MEUS AMADOS FILHOS.    Regressados de férias, comecei a concentrar a minha atenção na organização do evento do dia 11 de Novembro de 2011, o que me levou a pesquisar eventuais canalizações sobre o portal tríplice. Deparei-me com a esta meditação: “A Abertura do Portal Estelar da Rosa 11:11:11 - Meditação por Maria Madalena. Estarrecida com o que estava a ver, aceitei grata mais esta revelação.       
  Muitas situações aconteceram ao longo da minha vida cuja explicação ficou durante tempos suspensa e sem resposta. Uma das que mais me intrigou, aconteceu no decorrer de uma apometria, à qual fui sujeita. No ano de 2009, trabalhávamos com apometria, ainda no método tradicional. Foi desta forma que foi canalizada pelos médiuns uma instrução deveras estranha: foi dito para acertar a minha vibração/ data de nascimento para o dia 11/11/1973, (o que dá 11:11:11), quando a minha data de nascimento é 12/10/1974. Os médiuns canalizaram a data sem sequer se aperceberem que a soma dava 11.11.11, saindo das suas bocas em uníssono. Sem hesitações, o dirigente da apometria, Alexandre Valente, executou a instrução, sem contudo saber qual era a finalidade, mas, mais uma vez, num exercício de confiança e entrega a uma sabedoria maior do que a nossa. Muitas vezes nos questionamos sobre qual seria a razão de tal acerto, mas nenhuma resposta veio, até agora. Só no momento em que me deparei com a meditação da Rosa Sagrada para o 11:11:11, canalizada para a data portal de 11/11/2009 é que entendi o ajuste efectuado.
Passaram 2 anos, mas a resposta chegou. E com esta resposta, outras começaram a fazer sentido. Como que se subitamente várias peças dispersas começassem a reunir-se encaixando-se numa lógica perfeita e avassaladora. 
 Ainda no final de 2009, aquando da sintonização do Curso de Apometria Quântica, Carina Greco revelou-me a minha afinidade com a Fraternidade Rosa de Órion. Logo, na minha mente e no meu coração se fez luz quanto à ligação com as Três Marias e voltou a imagem das três estrelas brilhantes no céu numa noite de verão a caminho de Marrocos. Curiosamente, apesar de ser uma associação fácil de fazer, nunca estabeleci a ligação evidente que há entre a instrução vinda na apometria, do acerto da data de nascimento, e o portal 11:11 da fraternidade Rosa de Órion.   
Hoje compreendo o porquê. Faltavam ainda peças neste jogo. Faltava-me concluir este processo interior de perdão. Quando li a meditação compreendi que se tratava de equilibrar em nós as energias masculinas e femininas, e isso nunca poderia acontecer sem que os processos de entendimento/perdão associados estivessem concluídos. E esta é a razão destas linhas. 
 Esta constatação trouxe-me à mente aquele livro, que anos antes me tinha sido emprestado. Começando agora a perceber a razão desse facto. Comecei a folheá-lo e ao lê-lo encontrei, na descrição das cruzadas levadas a cabo pelos Rei Francês e pelo Papa infligidas aos Cátaros, todas as cidades pelas quais tínhamos passado nas três viagens que vos relatei: Carcasonne, Albi, Rodez, Montsegur, último reduto cátaro.
Ao constatar estes factos rendia-me ao facto de sermos efectivamente guiados por uma consciência maior, sem termos, na maior parte das vezes, a mínima noção disso. Estupefacta já com todas estas revelações, virei mais uma página no livro, longe de imaginar que mais viria, e aí estava ela, numa ilustração com fotografias das ruínas cataras, a cruz cátara. Saltou à minha mente a cruz que anos antes tinha surgido ao meu pés entre Algeciras e Gibraltar. Fui buscá-la no local onde ela estava guardada desde então e pude comparar, verificando que a cruz encontrada e a ilustração eram efectivamente as mesmas, e que se localizavam em Aude, como se pode verificar pela legenda, departamento onde ficamos nesta última viagem, onde se situa a Gruta Das Fadas.   Mas ainda encontrei mais conexões:
Nestes últimos três anos, O Alexandre e eu acompanhamos vários grupos num curso que preparamos e que intitulamos “Corpo de Luz” por ter como base o livro “O que é o Corpo de Luz” de Tashira Tashi-ren. Este ano terminará este processo com o último grupo que se encontra, neste momento, a concluir.     Descobri com a leitura do livro que, embora cristãos, os Cátaros diferenciavam-se por muitas razões do catolicismo, sendo que, um dos aspectos mais marginais aos conceitos de Roma assentava na postura de perfeito equilíbrio entre o feminino e o masculino, sendo inclusive dada a possibilidade de pregação a mulheres. Para além desta fundamental diferença, encontra-se no seio da filosofia cátara a crença na reencarnação e numa evolução através de um desligar gradual do corpo físico para o desenvolvimento do “Corpo de Luz”. De facto, já estava lá naquele livro tão velhinho e guardado num canto, a expressão “Corpo de Luz” que intitularia um curso que o Alexandre e eu conduziríamos durante este período de três anos.     
   Há muito sei que o meu nascimento nesta região francesa estava associado ao meu karma pessoal, no padrão de supressão do feminino, que marca a história dessa região pela perseguição e aniquilação total dos cátaros e da sua filosofia de vida. Milhares de homens e mulheres sucumbiram nas fogueiras por acreditarem nessa complementaridade do feminino e masculino. E as terras do Languedoc ficaram marcadas com a opressão desses homens e mulheres de espírito livre., simbolizando a supressão do feminino pela supremacia masculina de Roma. 
   Neste ponto ficava claro para mim que o propósito de tudo isto que convosco partilho não se encerra no meu processo e karma pessoal e ultrapassa os limites da minha própria aprendizagem e evolução. Foi simples compreender que teria de passar pela partilha das mensagens.
 Tive a certeza disso, de que não era só para mim quando apenas há uns dias atrás, quando informava um grupo de pessoas sobre o local do evento do dia 11 de Novembro de 2011, Póvoa de Lanhoso, uma amiga, professora de história que se encontrava presente exclamou imediatamente: Póvoa de Lanhoso, foi aí que começou uma grande revolta de mulheres, que se espalhou por todo o país, encabeçada por uma mulher que ficou conhecido com Maria da Fonte. Ouvi estas palavras, olhei para o céu, e agradeci mais esta mensagem e confirmação de que tudo está como é suposto… Mais uma Maria. E mais uma vez somos conduzidos ao lugar certo.      
  Na verdade, partilho convosco tudo isto porque entendo que me aconteceu não por eu ser diferente, mas pelo contrário, por eu ser igual a todos vós, por eu ser mais uma mulher como todas as outras, com dualidades e conflitos dentro de si em busca da unificação dos seus antípodas. Eu fiz e continuo a fazer o meu trabalho, já me perdoei muitas culpas através do perdão que fiz aos outros. E se tudo isto aconteceu para vos fazer chegar esta mensagem de que vale a pena baixar as armas e preconizar a paz dentro e fora de nós, então aqui cumpro o meu propósito.

 Assim, mulheres, façam as pazes com os vossos homens.     Homens, façam as pazes com as vossas mulheres.   
   Saibam que esses homens e essas mulheres são aspectos do vosso ser com os quais ainda se encontram em conflito.        
  Façam as pazes com os vossos pais, as vossas mães, os vossos filhos e filhas, os vossos irmãos e irmãs, os vossos companheiros e companheiras, os vossos amigos, e principalmente, com aqueles que consideram vossos inimigos.        
 Façam as pazes com aqueles que se foram e não são mais. Fazendo as pazes com eles estarão a fazer as pazes com esses aspectos de vós. Os aspectos que eles têm espelhado dia após dia. Mulheres e homens saibam que essas outras mulheres e esses outros homens com quem ainda têm atritos ou que olham com desprezo ou altivez são reflexos de parte de vós que um dia renegaste. Mulheres e homens, aceitem e abracem o feminino e o masculino que dentro de vós habitam e devem conviver em equilíbrio.         
  Se querem entrar em portais mais altos, devem, antes de mais, abrir esses portais de Amor, esses que formam sempre que os vossos braços se abrem a um abraço sincero.   
 E se assim for, um dia irão acordar sabendo que vivem o paraíso na terra. 
Mónica Guimarães
Novembro de 2011

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