quarta-feira, 11 de outubro de 2017

UMA MÃO CHEIA DE TUDO
Que tempos são estes?


Que tempos são estes? e onde te encontras no meio de tudo isto?
Pelas ruas vês caras e mais caras, de propaganda superficial e de aparências, ruído e mais ruído que tenta furar o universo já sobrepovoado da tua mente. Na televisão vês outros a lançarem foguetes mísseis de tamanho avantajado, num exibicionismo que só poderá ser proporcional à necessidade de ocultar outros aspectos que envergam, demasiado pequenos... . Se não são esses, vês outros com discurso balofo e vazio de humanidade, mas demasiado alto, ecoando pelo mundo inteiro, que se divide entre a estupidificação das mentes, a poluição da alma ou um abanar de cabeça, acompanhado de uma grande interrogação sem resposta: Que tempos são estes?
Também tens aqueles, autistas, que vivem num mundo cor-de-rosa e que pensam que a vida começa na escolha da roupa que vão usar para o dia e termina no número de kilometros que correram, ou outro qualquer desafio que se colocaram a si mesmos, para se iludirem e por uns instantes se sentirem vencedores. Vencedores de quê?
No fim da vida, às portas da morte, aí terás uns vislumbre das tuas vitórias, e todas elas terão muito pouco a ver com o que conseguiste para ti, mas sim, com o impacto que tiveste nos outros ou no mundo de uma certa forma. E sabes? O mundo, aquele que interessa, está-se a marimbar para o que vestes, quantos kilos pesas, de que tamanho é isto ou aquilo. O mundo, aquele que interessa, só quer saber do teu coração e da tua mente, porque quando eles trabalham em boa parceria, beneficias tudo à tua volta. Provavelmente fá-lo de forma silenciosa ou pouco vistosa, mas isso também tem a sua razão de ser: A alma que conhece os Mistérios sabe que não precisa gritar, como faz o homem que levanta o dedo na TV, sabe que um sussurro basta para quem tem ouvidos, e a Verdade está à vista para quem tem olhos.
Estes são tempos de revelação! Tempos de trazer à luz aquilo que esteve oculto por muito tempo.
Por isso, temos gentes a contorcer-se numa desesperada tentativa de evitar a eminente diarreia, que sabem que irá revelar de que matéria são feitos por dentro.
Então lá vão disfarçando com isto e com aquilo, cada um à sua maneira, na área em que cada um se movimenta.
Nos circuitos da espiritualidade, não é diferente. A verdadeira espiritualidade, vê-se rara por aí. Aquela feita de gente que sabe, verdadeiramente, não só numa mente sempre susceptível à ilusão, mas num coração maduro de feridas curadas, que faz parte do Todo e que nesse Todo exterior há sempre o equivalente ao Todo interior.
Vejo-os abanar a cabeça, assentindo, perante afirmações do género, sim, sim claro, o que está forma de mim, reflecte o meu interior. Mas no virar da esquina, as suas atitudes contrariam integralmente até um entendimento superficial do conceito.
Espiritualidade é Coerência!
Não é subir para um palanque, levantar dedos ou citar o Guru da moda. Que diferença há entre este, e o outro dos foguetes. Esse também lá tem as suas convicções e também se põe em bicos de pé, ou de foguete, ou de mulher modelo, ou... enfim
Espiritualidade é ser Mestre em humildade!
E tendo o mestre mais conhecimento e sabedoria que o seu aluno, isso é inegável; essa humildade só é verdadeira quando decorre do reconhecimento de si mesmo no outro. O mestre é Mestre quando sabe que entre si e o seu aluno só há uma diferença: TEMPO. Ele vê no espelho que seu aluno é todos os seus desvios, seus erros, suas omissões, suas covardias, suas derrotas, mas também vê sua constante procura do saber, suas esperanças, suas vitórias, suas aprendizagens, sua humanidade.
Estes são Tempos, em que cada vez mais, de nada serve tentar disfarçar o lodo interior com qualquer manobra de diversão, pois todos vamos ser chamados. Todos, mais cedo ou mais tarde irão ser forçados a revelar o que habita em seus corações, pois no fim das contas só este vai para a balança, o resto são tripas e carne mais mal ou bem passada!
Na questão das terapias o mesmo paradigma se aplica. Ou é que se escolhe o caminho do parecer e não ser, ou é que se é, e pronto. Trata-se efectivamente, sem rodeios, indo directamente à ferida putrefacta que fede, mas fede mais se estiver fechada. E eventualmente deixa de feder quando é arejada e desinfectada.
Ou também podes continuar a tentar disfarçar com o último perfume das modas holísticas. Podes sempre tentar ficar à espera que um gentil Mestre Ascencionado, ou Anjo, ou ET bem disposto, venha resolver o problema que tens com a tua mãe e que andas a projectar para os teus relacionamentos, ou com teu pai, e passas de relação em relação infeliz, e não sabes porquê. Ou que algum terapeuta te resolva os teus problemas de obsessão, mas sem que tenhas de te preocupar com o gatilho que gerou a situação e muito menos responsabilizar-te pelo facto de que algo em ti foi foco da indesejável atracção.
Espiritualidade é trabalho no terreno!
É trabalho nas relações familiares, íntimas, sociais, etc...
É também terapia, quando ela é honesta e incisiva. Livre de convenções e de associações, actua em liberdade com base na compaixão e amor por todo irmão que se propõe à cura. Assim é Apometria.
Essa que praticamos há anos com tudo o que ela implica, porque este mundo e nosso presente trespassa o passado, os nossos ancestrais, o extra-físico até às nossas origens estelares, de Alfa a Ómega.
De pés bem assentes no chão, pela forte componente cognitiva da terapia que leva o paciente a perscrutar-se nos padrões que compõe o cenário integral da sua vida, eleva-se também a patamares transcendentes cujos limites só são impostos pelo tamanho da ambição evolutiva da Alma.
Esta é a inscrição que se pode ler na nossa porta:
Uma mão cheia de Tudo!
Se passa por aqui teu caminho, podes vir cá bater.

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

domingo, 20 de novembro de 2016

O equinócio da alma


O equinócio está associado ao equilíbrio, marca o primeiro dia de balança. Os dias e as noites aproximam-se no seu tempo de duração.
Assim como a Terra e toda a vida se organiza para alcançar o equilibrio, também em nós o mesmo acontece.
Todos procuramos esse ponto, esse centro, no qual podemos ficar na Paz do reencontro com a perfeição que somos. Essa procura e esse encontro são definidos pelo que vamos semeando, pelas ecolhas que fazemos.
Este tempo, o equinócio, é tempo de recolha dos frutos. É tempo de reflexão, de interiorização, de recolha na intimidade do ser.
Aí onde as máscaras caem, pois não há paredes para segurá-las.
Aí onde só resta a transparência lúcida da tua alma.
Então, olhando para os frutos que são resultado da tua sementeira, poderás verificar o quanto te aproximaste ou afastaste do equilíbrio que beija a perfeição em ambas as faces.
Assim, é possível que neste momento surjam situações para te relembrar o que está a faltar, que desvios fizeste do centro e para que lado te levaram esses desvios.
Como sempre, é fundamental que olhes para ti, mesmo que através do espelho que os outros são, não deixes de olhar para ti.
O teu eu precisa da tua atenção para ser compreendido. Se não escutares com atenção ele terá de se fazer ouvir de qualquer forma, e se tiver de ser, ele irá usar o seu último recurso: o corpo físico. Poderás, por isso, neste momento de equinócio, ter que lidar com algumas desarmonias a nível físico. Cuida-te, trata-te com carinho. Decifra a linguagem do teu corpo. O teu eu fala contigo pedindo-te atenção imediata.
Por vezes, para chegar ao equilíbrio é necessário puxar o desequilibrio ao ponto máximo, para depois inclinar para o ponto central.
Poderá estar a passar-se isso mesmo na tua vida?
Então, recolhe-te na intimidade do teu lar interno e recolhe o fruto das tuas criações. Aí, nesse calor, dissolve tuas imperfeições, transcende tuas dualidades e reencontra-te no caminho do Equilíbrio Divino.
Dança com a Natureza em sincronicidade com o ritmo da Vida e promove o
Equinócio da tua Alma.

Alquimia do ser pelos relacionamentos


Os relacionamentos são sempre um tema que capta nossa atenção, não fossem eles tão importantes para uma vida plena e feliz.
Neste contexto, onde abundam as teorias e se multiplicam os falhanços práticos, frequentemente tenho ouvido que para que funcionem é fundamental aprender a fazer cedências.
Bem, não sei convosco, mas eu não podia estar mais em desacordo.
Explico porquê.

Estou em crer, se a memória não me atraiçoa, que era um tal de Aristóteles que falava dos conceitos de potência e acto. - De qualquer forma, se estiver a cometer alguma blasfémia filosófica, acredito que alguém terá a generosidade de me corrigir.-
Mas o que é que isso tem a ver com a questão dos relacionamento e das cedências?
Em primeiro lugar, importa esclarecer os conceitos. Considera-se acto a realização plena de algo que reside na virtualidade, ou seja, algo que está em potência. Assim como o fruto está em potência na semente. 
No caso do ser humano, diz-se que na essência da singularidade que cada um é está a potência, logo na realização plena dessa potência está o acto. Então, quando formos em acto, a nossa essência, teremos realizado plenamente toda potencialidade contida em nós, assim como um fruto é a realização máxima que uma semente pode esperar. Reforçando e continuando a analogia, podemos concluir que somos uma semente que vai crescendo, transformando-se numa plantinha com o objectivo último de um dia sofrer a última das metamorfoses e ser um belo e reluzente fruto. Na nossa essência estará, então, um ser completo, maduro e único. 
Mas como lá chegar? Essa tem sido a grande questão. Como voltar à unidade? E, principalmente naquilo que é mais palpável, como nosso dia a dia, como encontrar o equilíbrio que subjaz essa unidade?
Pois bem, não discuto que os caminhos são muitos, mas vejo os relacionamentos como um meio privilegiado de progressão, crescimento e aprendizagem. E, pensem lá, não será à toa, que todos somos impelidos a relacionarmo-nos. Tem de ser porque é mais favorável aquilo que nos traz por cá todos: crescimento.
Na verdade, sabemos já que as relações nos proporcionam a possibilidade de, pelo espelho que o outro é de nós mesmos, melhorar, aprimorar, direcionar a nossa própria evolução. 
Mas onde é que fica a questão das cedências?
Fazê-las ou não fazê-las em prole da saúde do relacionamento?
Considerando que cedências são dissociações entre nosso comportamento e nossa verdade interior, ou, dito de outra forma, é sentirmos uma coisa e fazer outra, pela expectativa de determinado resultado, parece me que fazê-las apenas atrasa um processo que, ao contrário, pela expressão da verdade de cada um, se torna muito mais rápido e eficaz. Isso porque as cedências têm sempre um prazo e principalmente um preço, que mais dia menos dia vai ser cobrado. 
Posso comparar as cedências ao exercício de reter a respiração. Todos conseguimos fazê-lo, mas chegará um momento em que teremos de retomar a respiração, normalmente, numa inalação profunda e, no imediato, descoordenada, sob pena de nos auto-aniquilarmos. Constata-se assim que cada vez que isso acontece perdemos nosso equilíbrio. Naturalmente, que quanto mais for prolongado esse tempo sem respirar, maior será o desequilíbrio na recuperação do fôlego. 
Entendam que esta não é uma analogia aleatória, pois o acto de respirar representa a troca. Aquela que se estabelece entre o nosso interior (eu) e o nosso exterior (os outros). Por isso, a metafísica da saúde nos diz que todos as enfermidades do sistema respiratório, nomeadamente pulmões dizem respeito a desequilíbrios nos relacionamentos.
Logo, quanto mais o ser se expressar na verdade do que realmente é, menos terá de recorrer a “inalações” de recurso para repor o equilíbrio perdido. 
Importa contudo referir que não fazer cedência do que somos, não é insistir teimosamente em condutas e comportamentos que interferem na liberdade do outro. É, pelo contrário, ter em conta que o movimento, a mudança, a alquimia do ser são fundamentais num relacionamento, ao ponto de ditar sua continuidade ou seu fim, sua saúde ou doença. Nada que é estático prevalece. O relacionamento, se vivido no sentido evolutivo, favorece uma contínua metamorfose estimulada pelos reflexos que projectamos no outro. Logo, é fácil de imaginar a confusão que se instala quando começam as cedências, ou seja, quando tentamos projectar reflexos mascarados, diferentes da nossa verdade interior.
Fundamental é a honestidade. Honestidade para admitir o que nos faz sofrer, o que nos incomoda, o que nos faz acreditar que temos de nos afastar de nós mesmos para melhor chegar ao outro.
Voltando à planta: não há planta que cresça sem água, certo? E sabemos que quem fala de água fala de emoções. Pois, são todas essas emoções que os relacionamentos nos causam, boas e más, que nos servem para crescer. Elas são verdadeiros indicadores, lembretes de que há transmutação a fazer em situações particulares, logo, reprimi-las, bloqueia todo processo e intoxica a alma.
Então é crucial termos a real noção do quanto é importante a verdade no movimento que transforma a potência em acto neste processo?
Se crescemos e evoluímos à medida que deixamos aquilo que está dentro de nós sair e existir na sua honesta e fidedigna realização, sem ajustes, sem retoques e sem cedências, mas em profunda e constante transmutação, quanto mais formos transparentes e fiéis às Vontades que o nosso processo de crescimento exige, mais eficazmente e rapidamente nos expandiremos de encontro à realização em acto de nós mesmos e encontraremos um vislumbre de Unidade na dualidade do relacionamento.

Aceitação ou resignação


Tens problemas? Obstáculos que te parecem intransponíveis? Não consegues progredir?
Uns dizem-te para praticares a aceitação, outros dizem-te para lutar.
Tu pensas: Em que é que ficamos?
Qual é o caminho afinal, e qual é o propósito de tudo isto?
Continua a ler e olha-te por dentro enquanto o fazes.
O ser humano tem uma tendência patológica em resvalar para aquilo que lhe exigir menos responsabilidade e convicção. Esta tem sido a grande causa do arrastar lento e sofrido do processo evolutivo da humanidade em geral e em particular.
Há que compreender, em primeiro lugar, a diferença entre termos como aceitação e resignação; deixar fluir e deixar andar, e entregar e não querer saber.
A Entrega é um dos exercícios mais sublime e subtil da evolução e só é conseguida por aqueles que já brincaram muito ao livre arbítrio e perceberam que afinal ele só é bom numa medida certa e, como sempre, em equilíbrio.
Quando o Homem aprende a arte da entrega, ele elevou-se acima de todas as densidades humanas, de todo sofrimento e tudo flui em perfeita harmonia. Por isso, só aquele que depois de ter já dominado a arte de exercício do livre-arbitrio, compreende que abdicar dele será o único caminho para a verdadeira emancipação da sua alma. Um pouco como quando um pai resolve deixar o filho fazer tudo o que ele quer, acertos e asneiras, durante um tempo para que ele possa aprender por si mesmo a distinguir o certo do errado. Essa aprendizagem será feita pela vivência das consequências das suas atitudes e escolhas. É isso. Nós somos essa criança. Até que um dia essa criança pensa: bem, talvez fosse boa ideia dar mais ouvidos aos conselhos e orientações do meu pai. Afinal ele sabe mais do que eu e mais importante que isso: eu sei que ele quer o melhor para mim, porque me ama incondicionalmente. Então aceita e entrega.
Encontra o equilíbrio entre respeitar a sua própria vontade, pois é seu direito legitimo e inviolável, e a vontade do seu pai.
Aceitação é assim a compreensão de que seja o que for que esteja a experienciar há uma aprendizagem subjacente a ser feita, que por vezes não é mais do que aprender a entregar e deixar –se de rebeldias.
Resignação é algo bem diferente. O resignado não aceitou, muito menos compreendeu a causa e aprendizagem que determinado evento problemático lhe vem trazer. Apenas desistiu. Cansou-se e aí falha numa aprendizagem bem mais primária, que é a responsabilidade que todos temos de agir, de fazer, de concretizar. Como alguém disse: sermos capitão da nossa alma.
Na verdade, antes de aprendermos a ENTREGAR às Vontades do grande oceano, devemos aprender a saber COMANDAR o nosso leme. O resignado largou o leme, demitiu-se da sua responsabilidade.
Cada um de nós tem o seu barco e seu leme para comandar, mas todos partilhamos o mesmo oceano, e vai ser o equilíbrio entre a nossa destreza como capitães e nosso conhecimento, respeito e aceitação dos comandos do grande oceano, com suas calmarias e tempestades, que definirá nossa chegada a bom porto.
Então agora que já compreendemos a diferença entre entrega e resignação, como saber, afinal, quando é tempo de entregar e aceitar e quando é tempo de lutar, agarrar no leme e enfrentar as ondas e ventos contrários?
Bem aí, é tempo de parar e olhar para a situação com os olhos do bom aprendiz.
Faz-te esta primeira grande questão:
Há algo que eu possa fazer para mudar esta realidade?
Se a resposta for sim, mesmo que seja um sim que te parece muito difícil de realizar, e é quase sempre, ele está lá e tu sabes e não vais poder ignorá-lo. Podes até tentar convencer os outros que não, não é possível, não há nada que eu possa fazer, mas se puderes, TU vais saber e isso vai vibrar em ti, vai atrair para a tua vida tudo o que for preciso, todas essas dificuldades até que tu reconheças e acredites no teu próprio poder. Então se podes fazer. Faz. Faz tudo o que estiver ao teu alcance. Não desistas, não atires a toalha ao chão, enfrenta. Pois com certeza é essa a aprendizagem que precisas fazer. Nesse caso, é tempo de reivindicar teu livre arbítrio, teu poder de agir e transformar tua realidade em algo melhor. Olha para trás, para compreender as causas. Que escolhas fizeste que desencadearam essa consequência que hoje vives? Depois de identificadas, corrige-as. Muda-te, transforma-te através da experiência. Sê capitão do teu barco. Agarra o leme e muda de direcção para aproveitares ventos mais favoráveis.
Se por outro lado, perscrutares tua alma e a resposta for não, não há nada que eu possa fazer para mudar esta realidade, aí entrega. Com certeza a aprendizagem que tens a fazer diz mais respeito ao exercício de humildade perante aquilo que te transcende do que a avaliar tua capacidade de fazer frente aos obstáculos, tal como bom capitão que reverencia a supremacia do grande oceano, entregando-lhe sua vida sempre que se faz ao mar.
Aqui, é-te pedido para aprender a confiar, saber receber, saber deixar fluir que é deixar-te guiar por uma sabedoria bem maior que a tua, que te embala suavemente e conduz, se te deixares levar.
Contudo é importante compreender que a verdadeira entrega, aquela que não é forçada por um sentimento de incapacidade e passa assim a ser um “não quero mais saber”, só é possível quando acompanhada pela aceitação.
Para fazer a Entrega, é preciso ter feito antes a Aceitação, pelo menos a primeira fase da aceitação. Esta acontece quando abraçamos toda a experiência, aceitando-a completamente por saber que há nela algo revelador e impulsionador para nossa alma, mesmo que não saibamos o quê no momento. É como dar um voto de confiança ao universo. Depois disso, é normal não tardar muito até recebermos a informação que faltava, para compreendermos a causa efectiva de todos os eventos que tanto nos abalaram. E aí a magia acontece: Tudo vai embora, tudo é curado, tudo é corrigido, transcendido e ultrapassado.
Então, pensando bem, não é assim tão complicado:
Se tens um problema, resolve-o. Se a resolução não depende de ti, aceita e entrega.

A eterna dança das polaridades


Na sequência de reiteradas vivências profundamente marcadas pela supremacia do gênero masculino, a mulher começou a despertar lá pela década de 60, dando de forma mais ou menos extravagante o seu merecido “grito do Ipiranga”.
Desde aí, temos assistido a grandes mudanças, embora num ritmo muito diferente dependendo de que zona do globo observarmos. Ainda assim, todos parecem caminhar no mesmo sentido: A emancipação do género feminino.

Sendo este um tema central do final do século passado, valerá a pena hoje refletirmos mais profundamente sobre ele? E sobretudo, não seria útil compreendermos o que esta revolução significa para além das evidências? Mais ainda: que consequências nos trouxeram estas grandes transformações?
Para a compreensão mais profunda deste tema impõe-se a compreensão da diferenciação entre masculino e feminino e homem e mulher. Independentemente do sexo há um equilíbrio ideal entre estes dois princípios, tanto no homem como na mulher. Os animus e anima de Jung. Um homem tem, assim, aspectos femininos, assim como a mulher tem masculinos, e no ideal, ambas estas energias devem conviver harmoniosamente em cada ser.
Posto isto, voltamos à questão que nos merece alguma reflexão. Como se situam as mulheres e os homens nestas grandes transformações mundiais?
Observando a mulher, é fácil verificar que a emancipação do género feminino levou à supressão da energia feminina ao invés da celebração da mesma. Naturalmente, pela opressão sofrida ao longo de séculos, as mulheres fizeram aquilo que todo oprimido faz, numa primeira fase: transformou-se no seu opressor.
Então temos mulheres que se transformaram de tantas formas verificáveis em homens de saia. Mulheres ativas, eficientes, independentes, positivamente emancipadas, mas também mulheres cada vez mais afastadas da maternidade, da intuição e afetuosidade que caracteriza o género. Por outra, não é difícil observar que, do outro lado, temos homens que se transformaram em mulheres de calças. Verdade: homens mais compreensivos, afetuosos, e intuitivos, mas também mais dependentes de uma “mãe”, mais passivos e com menos capacidade de iniciativa. O macho alfa transformou-se em macho beta.
Recordo que para compreender o alcance da questão é necessário ter em mente que falamos também de um princípio masculino, que se associa ao hemisfério esquerdo do cérebro e regula o raciocínio lógico, a razão, à força vital que avança em linha reta, e de um princípio feminino que se associa ao hemisfério direito e se liga à criatividade, à intuição e à quietude que acolhe a germinação das coisas.
É legítimo perguntarem agora: estas grandes transformações são negativas?
Absolutamente.
Para que o equilíbrio se estabeleça há sempre esta tendência para oscilar entre as polaridades. Essa é a dança das massas. O oprimido quer ser como seu opressor, e vai sê-lo logo que tiver oportunidade,  assim como colono quer ser como seu colonizador, a minoria como a maioria, etc...
A questão que se coloca aqui, numa perspetiva de evolução pessoal, é como não nos deixarmos arrastar pela onda da consciência coletiva.
Há apenas um caminho: elevando nossa consciência individual acima da consciência coletiva. Compreender o quadro mais vasto, ver de forma mais ampla. 
É verdade, que é quase sempre inevitável, ou talvez mesmo necessário, provar a polaridade oposta antes de conseguirmos situarmo-nos no caminho do meio, onde mora o equilíbrio. Mas perpetuar esse posicionamento em qualquer um destes extremos é responsabilidade de cada um. A onda coletiva arrastou a humanidade durante tempos pela supressão do feminino, tende agora à inversão para o extremo oposto. Saibamos individualmente e como comunidade equilibrar os polos sem termos de viver as dores que todos os desequilíbrios trazem.
Temos na história exemplos desta proeza: resistindo aos instintos mais primários que levam à vontade de subjugar os opressores, Mandela mostrou ao mundo que outra via era possível: a via da reconciliação dos opostos. Logo, se foi possível para uma nação, pode sê-lo para mundo inteiro e para cada um de nós.
Por isso, se é mulher, mergulhe dentro de si e verifique  até onde suprimiu o feminino. Até onde se muniu de todas as armas para combater num mundo que vê hostil ? Até que medida, fez tudo o que podia e não podia para corresponder a tudo o que pensou que lhe exigiam, para nunca mais se rever em situações de dependência ou subjugação? Quantas vezes calou aquela voz interior que lhe apontava um caminho, mas que contrariava todas as lógicas? E se arrependeu... mais tarde, sempre muito mais tarde, demasiado tarde. Quanto adiou a maternidade, ou a passou para segundo plano por não caber na exigência do ritmo que se impôs? Quanto suprimiu da sua criatividade livre para executar, fazer, fazer, fazer?
E se é homem, a questão poderá ser inversa: pergunte a si mesmo quanto suprimiu o masculino. Até onde levou as suas desistências? Até que ponto baixou os braços e se instalou no aparente conforto da passividade? Até que ponto se instalou na dependência de uma “mãe” que pode ter muitos rostos?
O caminho nunca se faz para trás, logo não se trata de voltar onde estivemos, pois aí os desequilíbrios era ainda maiores do que hoje. Trata-se sim, seja homem ou mulher, de acelerar o processo de equilíbrio entre o princípio masculino e feminino dentro de si, reconciliando-os, saltando para o meio para evitar a eterna dança entre as polaridades.

Mónica Guimarães

A Alma Emancipada


A alma emancipada é aquela que pensa pela sua própria cabeça e sente pelo seu coração. 
É aquela alma que é verdadeiramente livre. É aquela que transcendeu seus ancestrais, embora saiba que carrega em si toda essa ancestralidade. 
Aceita-a, respeita-a, mas não se deixa condicionar por ela. 
Reivindica sua própria criatividade e a divindade inerente a esse atributo. 
Sabe que isso a deixa suspensa no vácuo, mas a sua natureza nobre permite-lhe entregar-se a essa derradeira rendição.
Mónica

Meteora - Grécia